“Deus disse: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher (…) maldita é a terra por tua causa”.
Hoje, 08 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher, data símbolo de todo o conjunto de lutas e memórias sobre as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, bem como o embate contra a discriminação e a violência que sofreram ao longo da história. A existência desta única data para tamanha celebração já indica o grande abismo existente entre as condições de homem e mulher na sociedade.
Pouco se questiona a respeito desta desigualdade. Sempre tratadas como “o sexo frágil”, as mulheres sempre foram criadas para permanecerem enclausuradas em suas casas, atrás de seus fornos; em seus quartos, atrás de suas sexualidades; em seu coração, atrás de seus sentimentos. Tal submissão tem uma origem, do ponto de vista do nosso modo “cristão ocidental” de ver o mundo e de inventar interpretar a realidade.
A partir deste ponto de vista, a origem de toda a submissão da mulher ao homem, e de todos os problemas e desigualdades que as mesmas enfrentam pode ser apontada na Bíblia. Em seu primeiro capítulo, o Gênesis, está descrita (literalmente) a criação de toda a condição do “ser” mulher.
Antes de mais nada, vale ressaltar que o texto de Gênesis não é uma narrativa científica, ou literal. É um texto repleto de figurações, escrito pelos sacerdotes hebreus entre 586-538 a.C., no tempo do cativeiro na Babilônia (é, não foi Moisés quem escreveu). Nele, como em qualquer texto religioso de qualquer civilização de qualquer canto de qualquer mundo, existem os mitos fundadores de tudo o que encontramos no mundo: o céu, a terra, a lesma, a dor. A origem do mundo é descrita como obra de Deus, feita segundo uma determinada ordem de fatos, e da forma mais coerente.
Segundo a Bíblia, Eva foi a primeira mulher a andar pela Terra, embora existam histórias “pagãs” que fazem referência a uma outra mulher, anterior a Eva e chamada Lilith, que se rebelou contra Deus por não admitir ser submissa a Adão. Lilith teria sido feita de barro, da mesma forma que Adão, e por isso não admitiu ficar “em segundo plano”. Segundo a tradição, Lilith fora expulsa do Éden e tornando-se um demônio (história esta que servia para assombrar mulheres que ousassem se “rebelar” a supostas submissões).
Por isso, Eva foi criada das costelas de Adão, pois assim a submissão já estaria escancarada e inquestionável. Qual mulher nunca ouviu “Você veio de mim, da minha costela” ? Ela surge de um pedaço do homem.
E no mito fundador do pecado e da desobediência de Deus, o grande artífice de tudo foi a mulher. Curiosa, teimosa e pouco confiável, deu ouvidos à serpente e induziu o seu homem a comer o fruto proibido, desobedecendo a Deus. Por causa dela, todos os homens do mundo foram punidos com os mais variados castigos. Até a dor do parto encontra o seu mito fundador, como punição pelo erro cometido por Eva. Afinal de contas, em um mundo perfeito, porque o nascimento de um ser humano teria que ser repleto de dor? É com dúvidas como essas na cabeça que o povo cria seus mitos, suas histórias, suas religiões.
Assim, de nada o homem teve culpa. A culpa é da mulher, que é burra e deve permanecer submissa, obedecendo ao homem. Na Idade Média, a coisa era bem séria. A Igreja Católica pregava abertamente que a mulher era a primeira porta até o diabo. Quem tiver a oportunidade de visitar, ou ao menos observar a arquitetura das igrejas medievais, ou as grandes pinturas que abrigavam, verão que a mulher está sempre retratada próxima ao diabo, envolvida ou dando ouvidos a demônios, os portadores do pecado.
O prazer sexual também era visto como algo diabólico, tanto que as mulheres não podiam nem ao menos se insinuar, ou usar vestidos curtos ou coisas do tipo. Até hoje é assim. Não é à toa que existem evangélicas que usam saias até o tornozelo. A sensualidade da mulher era algo que faria o homem suscetível à tentação do diabo. Oras, por que Deus fez a mulher sensual?
Está claro pra mim que histórias como essas, de que mulheres são as portadoras do pecado, foram feitas por pessoas que não poderiam ter relações sexuais, como os clérigos e sacerdotes, por exemplo. Mas tornar isso verdade a toda humanidade… Pena que muitos simplesmente não se dão o mínimo esforço de questionar – e entender – os mecanismos que regem o mundo em que vivem.
Segue uma lista de referências à submissão da mulher ao homem, contidas na Bíblia:
“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor (…) Como, porém, a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido” (Efésios 5:22,24)
“Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor” (Colossenses 3:18).
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido…” (1 Pedro 3:1).
“Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja” (1 Coríntios 14:33-35).
“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1 Coríntios 11:3).
“A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” (1 Timóteo 2:11-12).
“Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:13-14).
Assim sendo, já considerando a mulher uma figura marginal na sociedade, em relação ao homem, os hebreus criaram toda essa história, que justificou a posição feminina como tal e seguiu sendo reproduzida, de diversas maneiras, ao longo dos séculos. Hoje ainda é assim. Qual história você vai propagar?
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