Eu acho que essa história tem muito mais sentido!
Desprezado, de Gregório de Matos
Já desprezei; hoje sou desprezado;
Despojo sou de quem triunfo hei sido;
E agora nos desdéns de aborrecido,
Desconto as ufanias de adorado.
O Amor me incita a um perpétuo agrado;
O decoro me obriga a um justo olvido:
Eu não sei, no que emprendo, e no que lido,
Se triunfo o respeito, se o cuidado.
Porém, vença o mais forte sentimento,
Perca o brio maior autoridade,
Que é menos o ludíbrio, que o tormento.
Quem quer, só do querer faça vaidade,
Que quem logra em amor entendimento,
Não tem outro capricho, que a vontade.
A Cópula
por Manuel Bandeira
Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.
Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente
Que vai morrer: – “Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!”
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra
E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.
obs: Danadinho esse Manuel Bandeira, hein?
Vai Passar
por Caio Fernando Abreu
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim – nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.