EDUCACAO

Fuvest, Prova Brasil, Enem, Enade. Vestibulares, Concursos Públicos, Cursinhos. A lógica da educação brasileira, ao longo dos últimos anos, vem se paltando pelo uso seguido e constante de políticas baseadas em sistemas avaliativos. Como em um vídeo game, o indivíduo tem que ultrapassar barreiras rumo à vitória, sua vitória pessoal. Cada etapa educacional é uma fase, e no final dela existe o grande desafio, de vida ou morte, pelo qual o personagem, no caso o aluno, tem que passar. A grande questão é que, além da sistematização destas grandes provas finais, existe um grande consenso, por parte da mídia e, numa relação de causa e efeito, da sociedade, de que estes são os verdadeiros modos de saber se uma pessoa é capaz ou não de passar de ano, de cursar o Ensino Superior, e de ganhar um diploma. Se estas grandes provas fossem “personalizadas”, de acordo com cada instituição ou nível educacional que delas dependem, existiria um certo grau de justiça; porém, as provas são únicas, gerais, aplicadas a todos. Qual a verdadeira razão disso tudo?

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“Vocês não tem responsabilidade nenhuma se não passarem, caso isso aconteça, não fiquem tristes; o governo joga nas costas de vocês todos o peso dele não dar Ensino Superior gratuito e de qualidade para todos, e ele faz todos acreditarem, inclusive seus pais, que você que é obrigado a passar na prova”.

Tal frase, proferida por um professor de História do cursinho pré-vestibular que cursei em 2002, deixa de ser apenas uma campanha motivacional às vésperas da Fuvest para evidenciar um grave problema: A existência do vestibular, a “grande prova” mais temida, demonstra que a educação brasileira não foi preparada para absorver o grande contigente de pessoas advindas do Ensino Médio. Pela lei da oferta e da procura, muitas pessoas, poucas vagas, afunilamento. O vestibular é a barreira final, que deve ser transporta apenas pelas “melhores cabeças”; é onde se institui a vitória e o fracasso na educação brasileira.

É, assim, a instituição educacional mais importante, adorada, consagrada, querida e temida. Todos querem passar pelo vestibular, os pais sonham com seus filhos sendo aprovados, seus filhos sonham com o sucesso e o status, todos sonham; e aí surge um grande problema: a educação para o vestibular. A cada dia, mais e mais instituições de ensino se preparam para fazer seus “clientes” passarem no vestibular. As matérias dadas, os livros didáticos escolhidos, os professores contratados, os métodos utilizados, todos visam a assimilação do que vai cair na grande prova. E a educação passa a ser formatada desta maneira, inicialmente nas instituições particulares, que possuem a óbvia “autonomia curricular” (e que entopem os anúncios publicitários prometendo filhos geniais e uspianos). Com a concorrência desleal dos alunos das escolas particulares no vestibular, existe uma pressão de “inclusão social” para os alunos do ensino público, que passam a ter certas “facilidades” para poderem competir de igual para igual; surgem então as cotas e diversos índices que multiplicam e aumentam suas notas no vestibular.

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Não obstante, se a educação pública vai mal, ela deve se espelhar na particular; se a particular se espelha nos “conteúdos vestibulares”, vemos aí uma reação em cadeia que contamina toda a educação brasileira. E por conseqüência o Enem, o grande vestibular do Ensino Médio, e que, segundo o próprio Ministro Fernando Haddad, deve ser um instrumento respeitado, reconhecido, e que “consiga proporcionar à juventude um rito de passagem da educação básica para a superior, de forma segura”. Ora, o que esperar de um Ministro da Educação que acha que com 17 anos um adolescente sabe o que quer para o resto da vida?

Assim, a bola de neve da educação despreparada se evidencia: As próprias políticas educacionais oficiais querem que os alunos migrem direto do Ensino Médio para o Superior; como não existem universidades públicas suficientes, aparece o vestibular, e como o vestibular é de cunho segregador, aparecem inúmeras e infindáveis universidades particulares, espalhadas por todos os cantos e esquinas, prontas para absorver este contingente órfão de educação; um contingente, sobretudo, mal formado, abortado e enfiado prematuramente na incubadora mais próxima (as chamadas Uniesquinas).

A lógica de mercado invade a educação brasileira; estas inúmeras instituições de ensino superior competem entre si com matrículas imbatíveis, mensalidades que cabem no seu bolso, diplomas que te deixam mais e mais na moda, e ofertas de emprego que desafiam qualquer índice de desemprego. Os cursos ministrados são sempre os mais socialmente “valorizados”, e o aluno não precisa esperar o seu término para ter o que escrever no seu currículo. Em algumas destas instituições, é possível que se inicie a pós-graduação antes do término da graduação, uma verdadeira viagem no tempo. E o mais interessante, nisso tudo, é que o governo “compra” vagas nestas mesmas faculdades, através de um outro tipo de grande prova/programa, o Prouni, as distribuindo entre os próprios alunos da rede pública e fazendo, assim, a  chamada “justiça social”. Dentro deste círculo vicioso, desta bola de neve.

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O grande problema disso tudo é a banalização da avaliação formal. Sempre visto como único, justo e majestoso instrumento pedagógico, a avaliação forjou-se como o instrumento que faz os melhores vencerem, e  não como o instrumento que faz todos melhores. O grande número de avaliações e a permanência dos mesmos problemas educacionais de outrora evidenciam que nada se faz com os resultados obtidos, muito pelo contrário. No máximo, os resultados geram categorias de qualificação, como o cara que passou na USP e o burro. Uma prova não pode ser ponto de partida para separação, e sim para interligações diversas, capazes de entender o cotidiano escolar brasileiro, do lápis à porta da escola, e assim mudar toda uma história de estagnação, endurecimento, congelamento.

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