Às 16h53 do dia 12 de Janeiro, um terremoto de magnitude 7 arrasou o Haiti, o país mais pobre, ignorado e esquecido das Américas.
De primeiro ponto de desembarque dos comandados de Cristovão Colombo, de primeiro país do mundo a abolir a escravidão, o Haiti colecionou histórias que o deixavam sempre por último, por baixo, ao relento. E nada como um terremoto para empurrar as coisas mais abaixo ainda.
Ao longo de sua trajetória, o Haiti foi colonizado por espanhóis e franceses; foi punido por ser o primeiro país a abolir a escravidão; foi o primeiro país das Américas a proclamar sua Independência, depois dos Estados Unidos; posteriormente, teve que pagar uma milionária indenização à França , por tal motivo; em um período de 100 anos teve 20 governantes dos quais 16 foram assassinados ou depostos; foi ocupado pelos EUA; teve violentas ditaduras patrocinadas pelos próprios EUA; ao longo dos anos, sofreu com violentos conflitos internos e constante conturbação política; foi atingido por furacões em 1963, 94 e 98, e tempestades tropicais devastadoras em 2004 e 2008, que juntos provocaram a morte de dezenas de milhares de pessoas. Em 2006, 80% de sua população encontrava-se abaixo da linha da pobreza.
Entretanto, nem todo o caos político, social e econômico do qual o Haiti foi vítima comoveu alguma película de parte do mundo para algum tipo de atuação para a recuperação do país. A ONU mantinha um trabalho lá, mas inexpressivo. Alguma coisa tinha que estremecer esta relação, nem que às custas da morte de 200 mil pessoas.
Com o terremoto, o mundo pela primeira vez lembrou-se do pobre país. De uma forma até mesmo espetacular, o grave acontecimento repercutiu em todo o planeta, e a miséria foi exposta a sangue frio. O show midiático do sofrimento dos eternos sofredores.
Assim, inúmeras campanhas pipocaram, buscando arrecadar fundos para a reconstrução do país. Gisele Bundchen doou cerca de US$ 1,5 milhão. Madonna ofertou US$ 250 mil. Brad Pitt e Angelina Jolie deram US$ 1 milhão. Dezenas de artistas pop pediram socorro ao país fragelado, organizando grandiosos eventos para conseguir somas ao Haiti. Muitos deles conseguiram se promover. Marketing social.
Tal não foi a minha surpresa ao ouvir certo dia no rádio que o Haiti já havia recebido, uma semana após o terremoto, um quantia superior ao seu próprio PIB. Segundo a ONU, hoje o Haiti já tem disponível cerca de US$ 2 bilhões de dólares em doações, uma quantia que talvez nunca teve em sua existência.
Mas… por que só agora? Por que as nações não se mobilizaram de tal forma para amenizar as atrocidades que elas mesmos provocaram no país caribenho? Por que falar em divisão de renda é um tabu tão grande neste planeta, mas em casos como o tratado se torna questão de vida ou morte? O que dizer das demais nações do planeta, marginalizadas? Qual o destino de países como Somália, Ruanda, Serra Leoa, Etiópia? Serão, finalmente, enxergadas?
Torcer por comida, ou torcer por um terremoto?
A hipocrisia. Sobre os escombros.
Homens.
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