por Carlos Drummond de Andrade

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo,

mas estou cheio de escravos,

minhas lembranças escorrem e o corpo transige

na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado,

eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto

o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram que havia uma guerra

e era necessário trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,

humildemente vos peço que me perdoeis.

Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho

desafiando a recordação do sineiro,

da viúva e do microscopista que habitavam a barraca

e não foram encontrados ao amanhecer

esse amanhecer mais que a noite.

eneko-ano-novo

Verdade sobre o Ano Novo

Quadrilha, por Carlos Drummond de Andrade

O Rio, por Vinícius de Moraes